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Prevalência de transtornos mentais na população LGBT: A atividade física como aliada na pandemia

Baseada em suas experiências e em seu lugar de fala, Maria Clara Elias Polo, enquanto mulher lésbica, afere a relação entre a população LGBT e o possível desenvolvimento de transtornos mentais - o que se agrava ainda mais com a pandemia. Assim, corrobora a ideia das atividades físicas serem pertinentes ao momento, além de dicas de como fazê-las sem sair de casa. Texto de Maria Clara Elias Polo.




Pensei em várias formas de dar início a este texto, mas acredito que a melhor forma seja falando sobre mim, rapidamente. Eu sou lésbica, paciente psiquiátrica e profissional de educação física. A partir destas informações, gostaria de esclarecer que eu jamais aplicarei o discurso de: “Você não pratica atividade física porque não quer”; “É tão fácil praticar atividade física...quantas desculpas você precisa para começar a agir”. Também ouvimos frequentemente, relacionado aos transtornos mentais: “Depressão é falta de vergonha na cara”.


Artigos comprovam que população LGBT está sujeita à altos níveis de depressão, desordens de humor, transtornos de ansiedade, abuso de álcool e drogas, ideação e tentativas de suicídio, comorbidades psiquiátricas1,2,3,4. Por exemplo, no período de 20 anos, surgiram várias políticas públicas, bem como, artigos científicos que buscavam conscientizar sobre a importância de dar valor a vida da população LGBT. Se chegamos ao ponto de ter que conscientizar sobre “a vida”, é porque esta população enfrenta meandros tortuosos.


Outros estudos internacionais concluíram que os jovens LGBT, relatam taxas elevadas de sofrimento emocional, automutilação, transtorno de ansiedade generalizada e comportamento suicida indireto quando comparados com jovens heterossexuais5,6,7. Consequentemente, a saúde mental comprometida é preditor das disparidades de saúde comportamental entre os jovens LGBT como o abuso de substâncias químicas8,9,10. Substâncias as quais agravam os sintomas relacionados à transtornos de humor. Isto é, temos um ciclo vicioso evidente.


Estamos passando por uma pandemia e as questões atuais acabam legitimando as preocupações já existentes de pessoas que sofrem com transtornos mentais. Somos bombardeadas(os) de informações 24 horas por dia sobre a Covid-19, e com base nesta situação posta, faço a seguinte pergunta:


Nos países europeus, tais como Itália, Espanha, Portugal, a quarentena obrigatória e o isolamento está acontecendo. Embora o isolamento esteja afrouxando em algumas cidades europeias, faço o questionamento: Na maioria dessas cidades as pessoas podem sair exclusivamente – com pena de multa – para realizar quais atividades?


Se você respondeu “supermercado e necessidades básicas” está correta(o). Mas o que você incluiu como necessidades básicas? Como resposta, existem apenas 3 situações que o cidadão europeu pode deixar a própria casa. E uma das três situações, se configura como: praticar atividade física – desde que seja no próprio “quarteirão”. O presidente da França, Emmanuel Macron, se manifestou de forma concisa e clara: “People can only leave their homes to shop for groceries or medicine—or to exercise11”.


A associação entre atividade física e transtornos mentais vem sendo estudada há quase três décadas com todas as metodologias possíveis. E, bem, todas as metodologias resultam em uma conclusão: A atividade física e o exercício físico são determinantes na prevenção e tratamento não-farmacológico para transtornos mentais como depressão e ansiedade.


Um artigo muito recente de Harvey et al.,11 (2018)12, pode impactar positivamente a vida de quem não gosta e não pratica atividade física – e possui ou apresenta tendência a desenvolver transtornos mentais. Ainda que as recomendações de atividade física sejam 30 minutos por dia, todos os dias da semana, o estudo torna-se encorajador para aqueles se aborrecem ao se movimentar: 30 minutos de exercício por semana pode apresentar resultados benéficos para prevenir por exemplo, a depressão. Além disso, o mais bacana: parece que a intensidade não impacta tanto no resultado. Ou seja, você não precisa correr 5 minutos no mesmo lugar, fazer 15 burpees, 15 flexões em 2 minutos para obter o benefício do exercício.

Este texto é claro – e infelizmente, direcionando para um grupo específico da população. Quem pode. Quem pode ficar em casa. Quem tem espaço. Quem tem casa. Quem tem tempo. Quem tem internet. Quem tem celular. Quem tem estrutura.

Nós que fazemos parte de uma população de risco para transtornos mentais, devemos encontrar o máximo de possibilidades e engendrar planos para prevenir e combater aqueles sentimentos tão obscuros e claudicantes que desenvolvemos, especificamente na ausência de liberdade.


Minha indicação pessoal de um aplicativo que pode auxiliar nessa missão, vai para os simpatizantes do Yoga:


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Quem já treina com personal ou é acompanhado por algum instrutor de academia, solicite o valor de uma consultoria – o qual se difere do valor da aula presencial. A maioria dos profissionais de educação física são profissionais autônomos e, com a crise, estão sem a renda mensal.


Quem também está passando por dificuldades e não consegue pagar uma consultoria, a sugestão é seguir perfis na plataforma Instagram, as academias e os profissionais de educação física também estão com treinos ao vivo em horários específicos – normalmente pela manhã e a partir das 16:00 da tarde.



Tente e faça o que for possível. Seja gentil com você.


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1 Bostwick WB, Boyd CJ, Hughes TL, McCabe SE. 2010. Dimensions of sexual orientation and the prevalence of mood and anxiety disorders in the United States. Am. J. Public Health 100:468–75

2 Cochran SD, Sullivan JG, Mays VM. 2003. Prevalence of mental disorders, psychological distress, and mental health services use among lesbian, gay, and bisexual adults in the United States. J. Consult. Clin. Psychol. 71:53–61

3 Gilman SE, Cochran SD, Mays VM, Hughes M, Ostrow D, Kessler RC. 2001. Risk of psychiatric disorders among individuals reporting same-sex sexual partners in the National Comorbidity Survey. Am. J. Public Health 91:933–39

4 Fergusson DM, Horwood J, Beautrais AL. 1999. Is sexual orientation related to mental health problems and suicidality in young people? Arch. Gen. Psychiatry 56:876–80

5 Fergusson DM, Horwood LJ, Ridder EM, Beautrais AL. 2005. Sexual orientation and mental health in a birth cohort of young adults. Psychol. Med. 35:971–81

6 Fleming TM, Merry SN, Robinson EM, Denny SJ, Watson PD. 2007. Self-reported suicide attempts and associated risk and protective factors among secondary school students in New Zealand. Aust. N Z J. Psychiatry 41:213–21

7 Marshal MP, Dietz LJ, Friedman MS, Stall R, Smith HA. 2011. Suicidality and depression disparities between sexual minority and heterosexual youth: a meta-analytic review. J. Adolesc. Health 49:115–23

8 Marshal MP, Friedman MS, Stall R, King KM, Miles J, et al. 2008. Sexual orientation and adolescent substance use: a meta-analyses and methodological review. Addiction 103:546–56

9 Brian S. Mustanski, Robert Garofalo, and Erin M. Emerson, 2010:

Mental Health Disorders, Psychological Distress, and Suicidality in a Diverse Sample of Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Youths. American Journal of Public Health 100:2426- 2432

10 Figueiredo, A. Abreu, T. Suicide Among LGBT Individuals, 2015. European Psychiaty 30(1): 28-31.

11 “As pessoas podem sair de casa apenas para comprar mantimentos ou remédios – ou para se exercitar” Tradução livre.


12 Harvey, S.; Overland, S.; Hatch, S. et al. 2018. Exercise and the Prevention of Depression: Results of the HUNT Cohort Study. Am J Psychiatry. 1;175(1):28-36

13 Peterson, J. Ten Sought-After Functions in Workout Apps, 2018. ACSM’s Health & Fitness Journal.

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