top of page
Buscar
  • Foto do escritorLaHibrid

Tezão na Epidemia


Em tempos de pandemia, a busca por entretenimento (na posição de isolamento) se mostra ampla. Com uma alta demanda, os sites pornográficos adotam medidas para reforçar e instigar o confinamento, fazendo com que pessoas que trabalhem com sexo busquem vender sua imagem de forma virtual, sem exposição física. Texto de Michel Furquim.




Durante as crises mundiais alguns setores na economia ampliam seus lucros, como foi o caso do chocolate M&M’s na II Guerra Mundial, e com a pandemia do Covid-19 não seria diferente.


Como medida para conter o avanço das contaminações com o novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde recomendou o isolamento social para todas as pessoas, evitando assim a circulação do vírus em mais locais e o colapso nos sistemas de saúde. Neste período de quarentena, muitos precisaram mudar suas rotinas, adotando o home office como alternativa para algumas profissões, aulas à distância, cursos online e até atividades culturais através das lives das redes sociais. Mas o que tem ocupado a rotina de muitos brasileiros são as visitas em sites pornôs.


Segundo o site SexyHot, houve um aumento de 31% nos acessos em sua plataforma, entre 14 a 19 de março. O site Brasileirinhas, teve um aumento em seus números, duplicando a quantidade de assinantes na semana do dia 15 de março.


Outro site de conteúdo adulto, o PornHub, além de ter registrado um aumento diário de 11,6% em seus acessos, liberou seu conteúdo “premium” para todo mundo. O site informou em suas redes sociais que o objetivo é colaborar para que os usuários fiquem em casa e impedir o avanço da contaminação do coronavírus.


Entre as produções “amadoras” os serviços Pantreon e OnlyFans, sites utilizados para comercializar vídeos e fotos eróticas ou pornográficas, também tiveram aumento significativo. Não apenas de assinantes, mas também de produtores de conteúdo que utilizam o site como uma alternativa de renda. A venda da própria imagem e do registro de suas relações sexuais seria uma saída em tempos de crise econômica e isolamento social?


Os sites pornográficos e os sites de exibição de câmera também se tornaram alternativas para profissionais do sexo. A quarentena reduziu a circulação de pessoas nas ruas e fechou casas noturnas, locais e territórios onde estas pessoas encontravam clientes. Muitas(os) buscam no sexo virtual ou na exibição online, alternativas para oferecer seu trabalho ou ganhar dinheiro neste momento de pandemia.


O próprio coronavirus virou uma categoria de busca nos sites pornô e o número de visualizações destes vídeos só aumentam. Para atender a demanda, produtores de conteúdo para sites como o PornHub já liberaram vídeos que mostram relações sexuais em situações de quarentena e utilizando acessórios e EPIs[1] que se tornaram essenciais neste período, como máscaras e luvas cirúrgicas.


Ao mesmo tempo que funcionam como produtos de entretenimento, a pornografia continua como um mercado poderoso e capaz de produzir, quase de forma fabril, conteúdo que será devorado por todos os tipos de pessoas e de desejos, assim como ressignificar questões como privacidade, trabalho sexual, relação sexual e vínculos humanos.

Paul Preciado, ao pensar o regime farmacopornográfico[2], já havia nos alertado para o controle e a produção do corpo desejante, através da pornografia, e a implementação em escala global das novas técnicas de produção de prazer.


Os aplicativos de “pegação” direcionados para homens gays cisgêneros[3], utilizados para encontros e para relacionamentos, emitiram comunicados aos seus usuários informando sobre os cuidados que cada um deve ter por conta do coronavírus. Grindr, Hornet e Scruff alertavam para a permanência em casa, reforçando as orientações da OMS e da Secretaria Estadual da Saúde.


A mesma Organização Mundial de Saúde (OMS) que orientou o isolamento para conter o Covid-19 também já definiu que para uma boa qualidade de vida, é necessário manter em equilíbrio quatro fatores fundamentais: família, trabalho, lazer e sexo. Sendo assim, mau-humor, irritação, baixa produtividade no trabalho e falta de disposição podem ser reflexos de uma vida sexual insatisfatória, no caso de pessoas alosexuais[4].


Neste momento, os efeitos causados pelo aumento no consumo de pornografia e relações sexuais a distância se torna fatores importantes para acompanhar e investigar, uma vez que poderão transformar as relações afetivo-sexuais daqui pra frente. Nos últimos anos, os vídeos pornôs já haviam se tornado objeto de estudo de psicólogos, sexólogos e terapeutas, uma vez que pesquisas mostraram dificuldades em excitação com parceiras(os) reais, baixa autoestima, além de percepções irreais de corpo e performance sexual.

[1] Equipamentos de Proteção Individual [2] Texto Junkie:Sexo, Drogas e biopolítica na era farmacopornográfica, 2018. [3] Pessoa que se identifica com a identidade de gênero que lhe foi atribuída no nascimento. [4] Pessoas que experienciam atração sexual ou não se encontram no espectro assexual.

113 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page